O RETRATO DE DORIAN GRAY (PDF)




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O RETRATO DE DORIAN GRAY
PROJETO TEATRAL - COLÉGIO ENERGIA
SALA 31M114 – 2016

PERSONAGENS:
- DORIAN
troca de
enquanto
violento

GRAY: Protagonista. Sendo ingênuo e inocente ao começo,
alma com seu retrato afim de manter uma imortalidade,
o quadro padecia sob seus pecados morais. Torna-se
e ambicioso.

- BASIL: Amigo pintor de Dorian. Possui um amor especial pelo
amigo e tenta protege-lo ao máximo de todo mal que o pode
consumir. Pinta o retrato de Dorian Gray.
- LORDE HENRY (HARRY): Lorde londrino. Com sua filosofia
hedonista, dissemina o mal e o amor narcisista em Dorian e o
corrompe profundamente. Apesar de fazer discursos sobre
aproveitar a vida, acaba não seguindo a própria ideologia.
- SIBYL: É atriz em um teatro decadente. Jovem, ingênua, fofa e
assustada, apaixona-se perdidamente por Dorian, onde vivem um
romance breve.
- FIGURA MISTERIOSA: Representação do mal, toma a alma de
Dorian.
- MENDIGO: Pedinte que aparece rapidamente em uma rua.
- PROSTITUTAS (2): Autoexplicativo. Estão presentes em duas
cenas.
- DONO DO TEATRO: Homem que cuida do teatro de Sibyl. Com alma
de vendedor, faz de tudo para atrair público ao teatro.
- SRA. LEAF: Governanta da casa. Uma senhora mal-humorada.
- PROSTITUTO: Autoexplicativo. Não possui falas.

CENA 1 – PANO PADRÃO. SALÃO COM PIANO1 E CADEIRAS
(BASIL e HENRY estão sentados, juntamente com figurantes. DORIAN está sentado ao
piano. Luzes apagadas; DORIAN começa a tocar. Lentamente, acende-se uma contraluz
(se houver disponibilidade). Ele toca por mais alguns segundos e acaba. As palmas
começam. DORIAN sai e mostra seu rosto; as palmas aumentam. Acende-se uma luz
tênue ambiente, e os convidados começam a se retirar das cadeiras e formar pequenos
grupos de conversa, que apenas fingem falar. BASIL aproxima-se de DORIAN.)
BASIL

Dorian, você foi espetacular! As pessoas adoraram. Querem saber em primeira
mão do próximo concerto.

DORIAN

Receio que vou fazer uma pausa em meus concertos. Minhas mãos já andam
sozinhas sobre a mesa. Estou ficando louco. Mas agradeço pelos elogios, de
qualquer forma.

BASIL

Triste, triste. Mas compreendo. Minhas mãos seguram a colher como se segura
um pincel e pintam sopas no prato. Falando nisso, pretendia finalizar seu retrato
amanhã - seu rosto é magistral, de fato. Ficaria agradecido se fosse ao meu
estúdio, para poder mostra-lo a você, finalmente. Lorde Henry estará lá
também. Por sinal, está aqui. Disse que gostaria de conhecer o senhor. Lorde
Henry!
(HENRY vira a cabeça, desnorteado, mas vê BASIL e se anima)

HENRY

Grande Basil! Estava mesmo esperando seu chamado. Ora, se não é Dorian
Gray? Muito prazer de minha parte. Meu nome é Henry, mas o senhor pode me
chamar de Harry. Devo dizer que fiquei deveras impressionado com sua
performance – e com seu rosto (DORIAN toca o rosto enquanto HENRY fala).
Angelical, inocente. Um pobre coitado. Louco pelo pecado, não é mesmo, Basil?
(ri)

BASIL

Harry, tenha modos. Não quer assustar Dorian logo em seu primeiro encontro.
Mas sim, reconheço a beleza em Dorian. Se me permite, Dorian me inspira como
Jeanne inspira Modigliani. Ele é como raio de sol para mim. Não consigo
imaginar minha arte sem sua luz irradiando sob meu corpo. Não fique surpreso,
Dorian, você sabe que o adoro. Minha vida melhorou imensamente desde que
você entrou nela. O que me leva a: Amanhã. Em meu estúdio. Sem falta. Certo,
Dorian?

DORIAN

Estarei lá.

BASIL

Certo. Se me dão licença, preciso me retirar. Meus rascunhos não se desenharão
sozinhos, não é mesmo?
(BASIL sai, apressado.)

HENRY

Agora, Dorian, se me permite, aproveitemos a festa...
(HENRY sorri para DORIAN, que coloca um braço em suas costas e o guia entre os
convidados. Burburinhos aumentam entre os figurantes. Luzes se apagam lentamente.)

CENA 2 – PANO PADRÃO. ESTÚDIO DE BASIL COM CAVALETE (PINTURA, PINCEIS, ETC.) POUCAS
CADEIRAS (OU POLTRONAS).

(Acendem-se luzes laterais. BASIL está limpando pincéis e arrumando suas tintas. HENRY
está graciosamente sentado tomando seu chá.)
BASIL

Onde está Dorian? Ele está meia hora atrasado. Disse a ele que falta pouco. Já
estou retocando o fundo.

HENRY

Acalme-se, Basil. Os melhores sempre se atrasam; é o charme. Ele já chega.
(HENRY beberica mais um pouco de seu chá. DORIAN, então, chega, bufando e ajeitando
seu cachecol. BASIL rapidamente cobre o quadro com um pedaço de tecido)

DORIAN

Perdoem-me, companheiros. Estive compondo uma sinfonia e acabei
prolongando o trabalho. Mil perdões, Basil; sei o quanto esse quadro lhe
importa. Mas estou pronto. Prossigamos.

BASIL

Dorian! Estávamos justamente falando sobre você. O retrato está pronto (Dá
uma última olhada). À minha opinião, está divino. Definitivamente minha obra
prima. Dorian, muito obrigado por me inspirar e ser a força que moveu minha
mente e coração. Essa obra reflete a sua alma e a minha. Agora, se me
permitem...
(BASIL retira o pano de cima do quadro, pintado à óleo. HENRY deixa sua xícara cair.
DORIAN sai da cadeira e aproxima-se da obra, perplexo. Lentamente, toca a obra)

DORIAN

É... é...

HENRY

É lindo. Realmente, Basil, você se superou. É uma obra de arte. Dorian, parabéns.
Acho que parece muito com você... na verdade, já parou para pensar que este
não é mais você? É sua versão alguns minutos mais nova. É engraçado ver por
esse lado, não é? É uma pena. O retrato é absoluto, imortal. Já você, Dorian,
temo que não. Um dia, você verá os traços em seu rosto pintado e pensará que
já foi assim. Deve ser triste, Dorian, muito triste. Mas é uma obra de arte, de
qualquer forma.

BASIL

Harry! Pare de corrompe-lo. Você não sabe o que diz. Dorian é fascinante,
independente da aparência. Sempre será o mesmo.

DORIAN

Eu... eu não sei. O retrato é magnífico. Eu sou mesmo assim? Está perfeito, Basil.
Mas... concordo com Henry. Não somos a mesma pessoa. A pintura é
privilegiada. A mãe natureza não a afeta. (refletindo) Como posso fazer para
permanecer assim?

HENRY

Você poderia entregar sua alma ao Diabo, de fato (BASIL o encara, perplexo e
com notável olhar de reprovação). É uma brincadeira, no entanto. Dorian não
trocaria de alma com seu retrato.
(Luzes piscam e apagam. BASIL e HENRY saem de cena. DORIAN se move até o meio do
palco. Acende-se uma luz à pino vermelha. Trilha Sonora: Tambores de suspense. Em
seguida, ouvem-se duas sequências pausadas de batidas de asas. Em cada uma delas, a
FIGURA MISTERIOSA (a FIGURA possui uma rosa vermelha na boca) passa justamente
atrás de Dorian, que se assusta. Depois de poucos segundos, a FIGURA o abraça por trás.
Nesse momento, muda-se para contraluz vermelha, que começa num clarão e, depois,
vai oscilando suavemente. Passando as mãos pelo corpo de DORIAN, a FIGURA vem para

sua frente. Nesse momento, começam a dançar. Depois, a FIGURA pega a rosa branca
que fica no bolso de DORIAN e, dramaticamente, amassa e joga-a no fundo do palco.
DORIAN, então, pega a flor vermelha que está na boca da FIGURA e segura-a em sua
boca. Então, finalizando a dança, a FIGURA se esgueira para longe. DORIAN, com a flor
na boca, vai caindo lentamente. Blecaute. Flores do cenário são trocadas de brancas
para vermelhas. Luz acende. DORIAN está observando o retrato como antes, e BASIL e
HENRY estão em suas antigas posições (como se nada houvesse acontecido). BASIL olha
para DORIAN)
BASIL

Dorian, você está bem? Parece que viu uma assombração. Quer algo para tomar
cor? Posso pedir um chá.

DORIAN

Não, eu... eu estou bem. Só... me deixem sozinho com o retrato por um tempo.
É rápido. Por favor. E não me esperem de volta. Vou daqui para o centro da
cidade para dar uma volta.

BASIL

Tem certeza que está tudo bem?

HENRY

Basil, todo homem tem seus devaneios. Vamos logo antes que o Sr. Gray acabe
nos agredindo.
(BASIL e HENRY saem. DORIAN fica olhando para o quadro. Luzes vão se apagando.)

CENA 3 – PANO PADRÃO. TEATRO DE SYBIL. ALGUMAS CADEIRAS.
(Luzes do palco desligadas. Há uma luz azul na parte abaixo do palco. Deitado no
parapeito do palco, há um MENDIGO. Apoiado no parapeito do palco, há duas
PROSTITUTAS. No canto direito, o DONO de um teatro está com um cartaz de peça na
mão. DORIAN anda por entre essas pessoas, assustado e com frio)
MENDIGO

Um trocado, por favor! Estou faminto!

DORIAN

Desculpe, não tenho nada hoje.

PROSTITUTAS Procurando por diversão, cavalheiro?
DORIAN

Não, obrigado.

DONO

Senhor! O senhor é extremamente charmoso. Tenho certeza que aprecia uma
peça de qualidade. O que acha de contemplar um clássico para esquentar o mais
frio coração? Sim, Romeu e Julieta! E então?

DORIAN

Perdoe-me, não tenho tempo (segue, mas para e volta). Na verdade, um pouco
de arte faria muito bem para minha cabeça. Se me permite...

(A luz se apaga. Ouve-se o som de uma orquestra decadente começando (Em edição de
som, fazer montagem sonora de vozes e orquestra passando rapidamente). Depois de
alguns segundos, ouve-se o fim da orquestra, seguido de um único aplauso. Em seguida,
DORIAN e SIBYL saem do fundo do palco em direção à entrada por onde DORIAN havia
passado.)
DORIAN

Você foi absolutamente apaixonante! Shakespeare estaria orgulhoso. Poderia
vê-la atuar pelo resto de minha vida! E é tão linda! A cada cena você só melhora.
Estou fascinado. E não apenas por sua performance, mas por seu jeito radiante.
Sou outra pessoa depois de ter visto você atuar.

(SIBYL e DORIAN vão andando até o centro do palco onde eles param e ficam um na
frente do outro com mãos dadas)
SIBYL

Obrigada, é uma honra ouvir isso. Tenho que admitir que não consegui tirar os
olhos de você enquanto estava lá em cima. Você foi meu Romeu hoje. Você fez
com que cada uma de minhas falas fosse direcionada a você.

DORIAN

Você não sabe o quanto meu coração se alegra ao ouvir isso. Mal posso esperar
para ver você atuando como Desdêmona ou Ofélia e encantando minha alma.

SIBYL

Não sei se fico lisonjeada ou envergonhada com tantos elogios.

DORIAN

Querida Sibyl, não seja tão modesta. Você é linda. Seu rosto jovial, seus cabelos
longos e sedosos, seu olhar inocente, isso é perceptível por todos. Já o seu
talento é o que mais me intrigou. Sua capacidade de ser todas as personagens
que vem a maravilhar homens de todas as partes da Europa. És todas as
mulheres em apenas uma. Não sei o que uma atriz como você faz em um lugar
horrendo como este.

SIBYL

Dorian, suas palavras me cativam e sua beleza me atrai até você. Prometa para
mim que vai estar sempre ao meu lado?

DORIAN

Só se você prometer que sempre estará ao meu.

(DORIAN e SIBYL se olham apaixonadamente e se beijam. Luzes se apagam.)
CENA 4 – PANO PADRÃO. TEATRO DE SIBYL/CAMARIM DE SIBYL/SALÃO DE DORIAN.
(Nesta cena, os diferentes acontecimentos serão divididos em duas partes do palco. Cada
cena acontecerá em uma parte, sendo previamente indicado. Inicia-se, então, no lado
DIREITO. Iluminação troca para o lado correspondente. Nesse momento, está SIBYL em
uma parte, dublando uma fala em silêncio, enquanto DORIAN chega. O DONO observa.)
DORIAN

Boa noite, senhor. Temo ter chegado atrasado.

DONO

Sem problemas; Sibyl acabou de entrar em cena. Lá está ela.

SIBYL

(atuando horrivelmente como Cordélia, de Rei Lear) “Jóias de nosso pai, com
olhos úmidos Cordélia... ora vos deixa. Eu vos conheço, mas... mas como irmã
não quero dar o nome... verdadeiro de vossas faltas todas. Cuidei de nosso pai;
entrego-o a vossos...” desculpem, eu não consigo mais. Não posso continuar.
(Ao acabar, SIBYL sai do palco, em passos rápidos.)

DORIAN

Eu não sei o que dizer. Ela não atua assim. O que aconteceu? Qual é o problema
de Sibyl?

(DORIAN levanta, enfurecido, derrubando a cadeira. Sai de cena.)
(TROCA DE LADO DIREITA-ESQUERDA. Luz frontal azul. Há uma mesa com comprimidos,
água e um espelho. SIBYL está se arrumando. DORIAN entra, enfurecido. SIBYL corre até
seus braços, feliz, mas é afastada.
DORIAN

O que você fez no palco? Você foi artificial, falsa. Francamente, não consigo
descrever minha vergonha.

SIBYL

Então você viu? Eu fui péssima! E isso é ótimo, não é? Não consigo atuar bem
após perceber que tudo ao meu redor é falso. Pude perceber como os outros
atores são péssimos em cena, como esse lugar cheira a mofo, como cada fala
parece sem sentido. Porque você me trouxe ao real e notei que apenas o nosso
amor era verdadeiro. Agora, por conta dele, todo o resto se tornou sem vida.
Minha má atuação mostra o quão mágico é o que sentimos um pelo outro!
Deveríamos nos orgulhar.

DORIAN

Orgulhar? Você deveria se envergonhar, isso sim. Você matou a parte que eu
mais gostava em você, a que despertava o meu amor. Pensei que fosse menos
tola.

SIBYL

Mas Dorian, você não percebe que ainda sou a mesma? Você abriu meus olhos
para a realidade!

DORIAN

Você é mesmo ignorante, não é? Hoje várias partes de você se foram. E, sem
elas, não acredito que possamos continuar juntos.

SIBYL

(chorando e implorando de joelhos) Mas você prometeu que ficaríamos juntos!
Ah, Dorian, por você, eu vou me esforçar para enxergar as coisas como antes.
Voltarei a atuar tão bem quanto já atuei, mas, por favor, não me abandone.

DORIAN

Tarde demais, Sibyl. Você destruiu meu coração, virou uma atriz qualquer. Seu
talento morreu e acredito que não irá renascer. Adeus, você desperdiçou sua
vida, me desapontou e acabou com nosso romance. É tudo sua culpa.

(DORIAN vai para o LADO DIREITO (onde há uma luz frontal vermelha) e deixa SIBYL
sozinha. Nesse momento, duas cenas ocorrem simultaneamente. No lado direito, há o
piano de Dorian, cheio de partituras. DORIAN chega, revoltado, e se senta no piano.
Enquanto isso, no lado esquerdo, SIBYL chora no chão, desolada. DORIAN começa a
tocar, vorazmente, o piano. No outro lado, SIBYL vai escalando a mesa até chegar aos
comprimidos. Pega todos os comprimidos da caixa e os põe na mão. Então,
teatralmente, os engole de uma vez. Nesse momento, a música de DORIAN acaba.
DORIAN respira, ofegante, enquanto SIBYL cai morta. Luzes se apagam lentamente.)
CENA 5 – SALÃO DE DORIAN. HÁ UMA CADEIRA NO MEIO DO PALCO. MANTÉM-SE O CENÁRIO
DO LADO DIREITO.
(DORIAN está na cena, com a cabeça apoiada no piano, dormindo, no lado esquerdo do
palco. Uma luz azul está iluminando apenas o lado esquerdo. Há diversas cartas em sua
volta. BASIL e HENRY entram discutindo em cena, acordando DORIAN.)
BASIL

Dorian! Eu estou tão triste por você. Não se preocupe, estaremos aqui para
ajudá-lo. Vamos superar isso tudo.

HENRY

Não há razão para se magoar, Dorian. Eu tenho certeza que não foi sua culpa.

DORIAN

Do que vocês estão falando? Souberam de minha discussão com Sibyl? Já decidi:
vou hoje mesmo resolver tudo com ela. Vamos nos casar e voltaremos a ser
felizes, eu creio. Foi só uma discussão!

HENRY

Dorian, eu lhe mandei uma carta. Você ainda não a leu?

DORIAN

Não tive a oportunidade. Adormeci aos pés do piano e por aqui fiquei até agora.
O que está acontecendo?

BASIL

Dorian...

HENRY

Sibyl está morta. (Entrega um jornal a DORIAN, que abre e lê a notícia da morte
de Sibyl)

DORIAN

O quê?! Não! Não! (DORIAN joga as cartas e partituras no chão. Depois, fica de
joelhos, chorando e se debatendo, revoltado)

HENRY

Dorian, recomponha-se, pelo amor de Deus!
(HENRY e BASIL seguram DORIAN e o levam até uma cadeira/poltrona no meio do palco.
Nesse momento, uma luz vermelha ilumina o outro lado do palco. HENRY fica do lado
vermelho e BASIL do lado azul, ficando DORIAN entre eles – que ouve atentamente)

HENRY

Dorian, você não há motivos para ficar assim. Ela morreu, é isso! A revolta não
vai traze-la de volta! Aceite e siga a vida.

BASIL

Harry, se cale! Quando foi a última vez que demonstrou sentimentos? Dorian,
não há problemas em ficar assim. Sabemos que ela importava para você.

HENRY

Ela não importava para você; seus personagens, sim. Dorian não se apaixonou
por Sibyl, se apaixonou por Julieta, Ofélia e Cordélia. Qualquer atriz pode
representá-las. Não derrame lágrimas à toa.

DORIAN

De certa forma... Basil, acho que Harry está certo. Eu não a amei de verdade; eu
amei quem ela representava. E mesmo que tivesse me apaixonado por Sibyl e
não pelo seu talento, teria sido uma paixão efêmera. Não devo me chatear. Na
verdade, devo me alegrar por não ter cometido o erro de ter me casado com
ela; do contrário, eu viveria infeliz.

BASIL

Dorian, eu não acredito! Veja só no que você se tornou! Eu estou triste. Não
consigo crer. Henry, no que você o transformou? Ele é um desalmado. Eu já o
amei, Dorian. De verdade. Agora, você está vazio por dentro. Estou
decepcionado, sinceramente.
(BASIL sai de cena, com raiva)

DORIAN

Basil! Volte aqui!

(DORIAN começa a se levantar para seguir BASIL, mas HENRY o impede)
HENRY

Dorian, esqueça. Eu vou atrás dele. Basil!
(HENRY sai de cena, atrás de BASIL. DORIAN se levanta, revoltado, e começa a notar o
ambiente e arrumar as coisas jogadas no chão. Nesse momento, levanta-se um holofote
para o quadro, que está mudado: com um sorriso maléfico e sangue escorrendo das
mãos. DORIAN se aproxima, horrorizado.)

DORIAN

O que aconteceu com ele? Ele está mudado. O que é este sorriso? Estou
alucinando. Deus nos proteja. Não é possível. Sra. Leaf! Onde estão as boas
governantas? Sra Leaf!

(a velha SRA. LEAF entra em cena, mal-humorada.)

SRA. LEAF

O que está acontecendo, Sr. Gray?

DORIAN

Mandem arrancar aquele retrato de onde está. Ponha-o no porão o mais rápido
possível.

SRA. LEAF

Mas Sr. Gray, o retrato está gracioso! Por que esconde-lo do público?

DORIAN

Não questione minhas ordens! Mande tira-lo dali o mais rápido possível.

SRA. LEAF

Certo, Sr. Gray. Há algo a mais que queira?

DORIAN

Sim. Avise aos empregados que darei uma festa. Mas antes, tire o quadro.

SRA. LEAF

Certamente, Sr. Gray. Se me permite.

(SRA. LEAF sai. DORIAN volta a olhar para o retrato, desconcertado. Luzes se apagam)
CENA 6 – ALUCINAÇÕES DE DORIAN. PALCO DIVIDIDO EM 2: DE UM LADO, O QUADRO (QUE
ESTARÁ NUMA TELA DIGITAL E, POR CAUSA DISSO, IRÁ APODRECENDO). DO OUTRO LADO,
DORIAN GRAY ESTARÁ EM UMA LUZ VERMELHA, VIVENDO SUA VIDA LOUCA E IMORAL.
(Duração de 30 segundos, aproximadamente. O quadro está em um cavalete, coberto.
DORIAN passa por ele e retira o tecido. Enquanto o quadro envelhece, DORIAN vive três
situações (a cada situação, há um blecaute da luz vermelha): na primeira, está sendo
acariciado por duas PROSTITUTAS e um PROSTITUTO. Na segunda, bate violentamente
em um HOMEM. Na terceira, está toma uma garrafa na boca, caindo no chão ao bebela. Nesse momento, BASIL chega e o sacode, enfurecido.)
BASIL

Dorian Gray! O que você está fazendo consigo mesmo? Perdeu o juízo! Levantese logo. O que aconteceu com você?

DORIAN

(meio bêbado) Seu quadro, Basil! É o retrato. O que o verme é para o cadáver,
meus pecados são para a imagem pintada na tela. Arruínam minha beleza,
devoram minha graça e a tornam vergonhosa.

BASIL

Dorian, você está alterado. Vou te levar para o quarto.

DORIAN

Não! Venha comigo, você vai entender do que eu estou falando. É o retrato,
Basil! Eu o destruo e ele me destrói; estamos nos corroendo lentamente.

BASIL

Sinceramente, estou arrependido de o ter pintado; você ficou obcecado. Pare
com isso.

DORIAN

Não, Basil!

(DORIAN empurra BASIL e o puxa até o quadro)
DORIAN

Veja no que você me transformou, Basil! Veja! O retrato agora é minha alma.
Ele reflete quem sou e eu reflito sua beleza. Você nos uniu. A culpa é sua!

BASIL

(horrorizado) Dorian, o que aconteceu com a pintura? Eu não pintei isso. Isso
não é certo! Quem fez esse... esse demônio? (BASIL cobre o quadro com o pano)

DORIAN

Você o criou. Sou exatamente como fui pintado por você. No fundo, minh’alma
padecia pela escuridão. Obrigado, Basil. Você me mostrou o real.






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